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1992

Um universo de polos convergentes

*Publicado no caderno ANEXO do jornal A Notícia, em 10/05/1992

Péricles Prade

Juliana Hoffmann, jovem artista catarinense em nítida fase de ascensão profissional, está expondo seus

últimos trabalhos na galeria de arte da Universidade Federal de Santa Catarina.


Aperfeiçoando seu modus operandi de pintar em acrílico sobre tela, sem destacar as conquistas

tradicionais, aliadas às da modernidade, guarda do cubismo – que, nela, se insinua com peculiar e

generosa delicadeza de traço – certas ressonâncias técnicas marcantes, onde se detona, demais disso,

visível unção de dois polos pendulares normalmente distintos, conquanto caracterizadores de pintura

contemporânea no Brasil: de um lado o informalismo, e, de outro, a figuração. Esta de sabor

expressionista e lírico, e, aquele, de cunho expressionista e geométrico.


A artista em pauta soube catalisar, numa linha de amadurecimento crescente, devido ao exaurimento

daquelas vertentes (que não são antípodas, mas até confluentes, dependendo da tipologia de estilo), todas

essas conquistas, unindo aparentes expressões antagônicas, ou seja, fundindo as técnicas do

abstracionismo (e do construtivismo) com as do figurativismo, renovando-os, a seu modo, em direção de

uma fusão de equilibrada solução estilística. O que, vale dizer, é raro e difícil, mormente em se tratando

de alguém ainda em busca de sua definitiva identidade artística.

A fusão proposital dos elementos figurativos e abstratos se revela, também, pela confluência das tensões

interiores (camerísticas) e exteriores (objetivas), expressadas a partir de vibrações intensas, imantadas por

um cromatismo nervoso e pleno de sutilezas em seus matizes de imaginação contida pelo racional

interferente no processo de composição.


O cuidadoso tratamento formal variado, com reminiscências escultóricas, às vezes sugerindo sóbrias

evocações surreais em certas texturas – talvez as reservas da fenomenologia dos seus sonhos transpostos

no limite da contenção – demostra um equilíbrio entre o intelectual e o emocional, traduzido pelo requinte

das imagens, compostas por uma singular concepção de luz e cor. Há, por assim dizer, absoluta adequação

imagística. Afinal, como dizia Wittgenstein em celebrada vinheta filosófica, “Das falsche Bild verwirrt,

das richtige Bild hilf” ( a imagem errada confunde, a imagem certa ajuda).

Disso resukta, não apenas um simples e caprichoso universo pictórico, amparado por linhas de desenhos

sob expostos e bem construídos, mas um organismo temático de viva dramaticidade interna, de rica

simbologia, exercida por uma linguagem policromática, rítmica, caligráfica e lúdica no plano da

espacialidade que soube, no caso, pôr em relevo certos dado temporais minimalistas, em nível quase

oculto, decalcados da infância reassumida nos meandros anímicos de cores inquietas, funcionais e

sedutoras.


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