Sobre Viventes é uma série de trabalhos que retrata essa floresta em destruição. Comecei a série em 2015 quando me mudei do centro da cidade para um bairro pacato, rural e menos urbanizado, o que me propiciou um convívio diário com a natureza.
O início da série deu-se a partir do trabalho de impressão de imagens de árvores sobre páginas de livros antigos que, posteriormente, foram bordadas e perfuradas. Em um segundo momento passo para pinturas sobre tela com uma dimensão maior.
“Juliana Hoffmann pinta, fotografa e borda as árvores, numa ação quase premonitória desses acontecimentos. Suas florestas não são verdes e exuberantes como aquelas que costumamos reconhecer quando se ilustra esse tema. Ao contrário, são densas camadas de árvores em tons de sépia e marrom escuro que nos trazem a sensação de quase sufocamento. Uma das obras, inclusive, lembra uma mata em chamas. Nessa série, a vida não está dada como algo intrínseco à floresta, é preciso um pouco mais de tempo e cuidado do observador, afinal, as obras são muito mais sobre a capacidade de sobrevivência dos seres do que sobre a abundância da natureza. Os sinais vitais dão pistas nas linhas vermelho-sangue, bordadas sobre as fotografias, e nos poros, sejam perfurados ou pintados um a um pela artista, que nos dão um certo respiro diante das imagens claustrofóbicas. A respeito dos seres viventes, intervindo sobre eles com agulhas e linhas, Juliana Hoffmann lembra-nos que se faz urgente sobreviver. Sobre Viventes no sentido de tema, forma e discurso.” Flávia Person, em livro/catálogo Sobre Viventes, 2020.
"Há uma antiga profecia do povo Yanomami que diz: A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. Se conseguirem, os rios vão desaparecer debaixo da terra, o chão vai se desfazer, as árvores vão murchar e as pedras vão rachar no calor. A terra ressecada ficará vazia e silenciosa. Os espíritos Xapiri, que descem das montanhas para brincar na floresta em seus espelhos, fugirão para muito longe. Seus pais, os Xamãs, não poderão mais chamá-los e fazê-los dançar para nos proteger. Não serão capazes de espantar as fumaças de epidemia que nos devoram. Não conseguirão mais conter os seres maléficos, que transformarão a floresta num caos. Então morreremos, um atrás do outro, tanto os brancos quanto nós. Todos os Xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai desabar.” David Kopenawa – Xamã Yanomami, em A Queda do Céu, 2015.