2020
Juliana Hoffmann num olhar quase familiar
*Texto publicado no catálogo Sobre Viventes
Maria Esmênia Ribeiro Gonçalves
Eram quatro as meninas da família Neves Hoffmann. Alegres, criativas e interessadas pela literatura transcrita nos livros que as rodeavam. Em inglês, em português, enfim, na língua do mundo que fluía naquele lar.
Poderia falar sobre as lembranças que tenho das quatro, mas hoje vou falar das lembranças que tenho de Juliana. Não são muitas, mas são marcantes o suficiente para não esquecê-las.
Suave, generosa, sem muitas manifestações efusivas, Juliana era ao mesmo tempo decidida e firme desde a infância. Carregava consigo os materiais de trabalho, lápis e papéis, e, muitas vezes, silenciosamente no seu mundo, expressava em cores e traços os personagens que povoavam a sua alma de criança feliz e artista nata.
As idas da família, todos os finais de semana, para o sítio, eram as fugas de que ela precisava para brincar no bambuzal que constituía a sua floresta. Ali estavam os embriões dos seus futuros trabalhos. Embriões a quem ela deu vida, primeiramente em trabalhos quase ingênuos feitos em preto e branco, cheios de bolinhas, linhas, pontilhados. Presentes, constituindo a cena, estavam carros de boi, pássaros, árvores e a casinha açoriana.

Foi uma alegria ver um trabalho seu exposto na antessala do Reitor da UFSC. Ela tinha crescido, era uma artista já reconhecida, e eu ainda a via como uma criança. Ela só tinha dezessete anos...
Hoje, em 2019, o amor pela floresta continua expresso nos seus trabalhos da série Sobre Viventes. As bolinhas, linhas, pontilhados ainda estão presentes. Só que ganharam cores e até luzes misteriosas.

Como disse Jairo Schmidt no texto Os Persuasores Ocultos (1992), Juliana Hoffmann faz o invisível ganhar forma.1
1SCHMIDT, Jairo. Os persuasores ocultos. Florianópolis, 1992. Texto do convite da exposição Pinturas, de Juliana Hoffmann, na Galeria de Arte da UFSC em 1992.